O céu noturno nos oferece inúmeras opções de estrelas
variáveis a observar.
O entusiasta deve levar em conta seu tempo disponível para realizar
as observações rotineiras, o instrumental que possui (binóculo, telescópio) e as
condições atmosféricas locais antes de escolher as variáveis mais adequadas que
serão incluídas em seu programa observacional.
As variáveis de Longo Período (LPVs), ou do tipo "Mira",
como também são chamadas, se constituem em opções bem adequadas para aqueles
que não dispõem de tanto tempo para observar e principalmente para os
iniciantes. Os observadores mais experientes também colocam estas variáveis
entre suas prediletas em seus programas observacionais.
São estrelas de comportamento bem regular e muitas delas tem amplitude de
variação dentro dos limites de pequenos instrumentos ou de um binóculo. Muitas variáveis de Longo Período atualmente
não estão sendo observadas visualmente com a frequência de alguns anos atrás.
Recentemente a AAVSO (Associação Americana de Observadores de Estrelas
Variáveis) constatou que mais de 70% das LPVs que estavam listadas em seu "bulletin" de máximos e mínimos (não mais publicado) não contavam nem com 100 estimativas no ano de
2015! Estaremos perdendo o interesse pela observação visual?
Novos tempos, a
tradição ainda permanece
Nos últimos anos a fotometria de estrelas variáveis utilizando
câmeras DSLR, CCDs e programas dedicados a este fim vêm se disseminando entre
aficionados, que antes realizavam observações visuais, com muito menor
precisão. Telescópios automatizados e de funcionamento remoto também realizam
milhares de medições a cada noite de um sem número de estrelas.
Entretanto, é razoável ainda o número de observadores que
continuam a realizar estimativas visuais, mesmo sabendo que seus resultados não
terão a precisão obtida com a tecnologia digital. Uma rápida olhada no site da
AAVSO nos demonstra isso. A satisfação de observar o céu "ao vivo" e
reencontrar suas variáveis prediletas é certamente o grande motivo para as
noites de observação, mas não podemos esquecer que o escrutínio "em tempo real" da estrela permite verificar na hora se a estrela se comporta da maneira esperada
e usual.
Além do mais, observações visuais realizadas dentro da
metodologia prescrita e com critério, permitem obter estimativas de brilho com
precisão da ordem de 0,1 magnitude. Essa
margem permitiu a construção de curvas de luz ao longo de décadas - e algumas
um século! – e proporcionam a pesquisadores e estudantes de Astronomia um farto
campo de estudo.
O que são
As variáveis Mira são estrelas gigantes ou super gigantes vermelhas,
de tipo espectral M ou mais tardio, que apresentam uma amplitude de variação
(extremos de brilho máximos e mínimos) que pode ultrapassar dez magnitudes. O
período entre os máximos de brilho pode ir de 100 a mais de 400 dias. Os
máximos e mínimos de brilho se alternam ciclicamente e na maioria das variáveis
a trajetória ascendente é mais rápida que o declínio de brilho. A variação de
brilho nas variáveis Mira ocorre por pulsação de suas camadas externas e por
isso se incluem entre as variáveis da classe pulsante.
A seguir, apresentamos algumas características das variáveis
LPVs mais notáveis:
Ômicron Ceti
Também conhecida como Mira Ceti, foi a primeira estrela
variável a ser reconhecida no céu, no ano de 1596, pelo astrônomo alemão David
Fabricius, que a observou como uma estrela de
4ª magnitude. Na época, achou tratar-se de uma estrela Nova e após
diminuir de brilho não a acompanhou mais. Sete anos mais tarde, Johannes Bayer ao compilar sua Uranometria, a
atribuiu a letra grega "Ômicron" desconhecendo ainda que se tratava de uma
variável. Somente no ano de 1638 suas variações foram melhor estudadas pelo
astrônomo holandês Johann Holwarda, que determinou seu período de variação em
11 meses.
No seu máximo brilho, Mira pode chegar até a 2ª magnitude,
como nos anos de 2011 e 2012, e em seu mínimo ultrapassa a 9ª magnitude. O período entre dois máximos de
brilho é de 331 dias, aproximadamente, podendo ser um pouco maior ou menor de
um ciclo para outro. Um binóculo 10 x 50 permite seu acompanhamento por
quase todo o ciclo de variação mas é
necessário um pequeno telescópio para observá-la no mínimo. Uma estrela de 9ª
magnitude situa-se próxima à Mira e pode confundir o observador na hora de
realizar sua estimativa.
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A imagem à esquerda, obtida pelo Chandra, mostra
Mira Ceti e sua companheira VZ Ceti. A
imagem à direita mostra uma concepção artística do sistema (CXC/M.Weiss).
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