CONTATOS DESTA COMISSÃO: marcosdb2@outlook.com (e-mail), (35)9-9835-3947 (Tel/Whatsapp), https://www.facebook.com/marcoslms16 (Facebook)

quarta-feira, 30 de junho de 2021

Nova Cassiopeia (N Cas 2021 / V1405 Cas) aumenta de brilho, novamente.


Novas são eventos muito bons de se observar, suas observações são muito úteis para entender o mecanismo dessas explosões. Porém, algumas se destacam e esse ano tivemos duas.

Uma Nova muito interessante no ano de 2021, junto com a Nova Her 2021 (leia o artigo sobre ela no nosso blog, logo abaixo desse), foi a Nova na constelação da Cassiopeia que ainda está em um brilho fácil de ser observada com binóculos, porém, os habitantes do Hemisfério Norte tiveram mais sorte que nós do Sul dessa vez.

Descoberta pelo japonês Yuji Nakamura no dia 18/03 com magnitude 9,6 usando uma lente 135 mm  F4.0 + CCD (sem filtro) foi rapidamente classificada como uma Nova Clássica por Hiroyuki Maehara (Observatório Astronômico Nacional do Japão) no mesmo dia. Ele utilizou o espectrógrafo de campo integral montado no telescópio Seimei de 3,8m no Observatório de Okayama (Universidade de Kyoto, Japão) e o artigo da classificação se encontra nesse endereço: https://www.astronomerstelegram.org/?read=14471

Segundo as observações visuais enviadas à AAVSO, a Nova se manteve próxima de magnitude 8.0 do dia 19/03 até o início do mês de Maio, onde começou a apresentar um leve aumento de brilho. No dia 06/05 ela já se encontrava em magnitude 7.2, mas o melhor ainda estava por vir.

Nos dias seguintes ela apresentou um aumento repentino de brilho, chegando no dia 10/05 à magnitude de 5.1, sendo facilmente observada a olho nu por observadores residentes em locais onde o céu é mais escuro devido a ausência de poluição luminosa excessiva.

Apresentando uma queda de brilho mais lenta que o aumento repentino, no dia 19/05 ela estava de volta à magnitude 7.7, observável com binóculos e pequenos telescópios. Então a estrela se mantém próxima dessa magnitude atualmente, rendendo observações que servirão de estudos para entender o comportamento dessa estrela.

Infelizmente a localização da estrela não permitiu que observadores brasileiros fizessem observações do evento.

Figura 1  Curv de Luz da N Cas 2021. Cortesia AAVSO

Mas uma coisa atípica aconteceu, mais uma vez ela aumentou de brilho.

Entre os dias 19 e 29 de maio, ela se manteve entre as magnitudes de 7.5 e 7.7. Porém, no período entre 29/05 e 05/06 ela aumentou seu brilho uma magnitude, equivalente a 2.5x em ganho de brilho. Como esperado, uma Nova diminuir seu brilho em um certo período de tempo, ela estava, no dia 23/05, de volta à magnitude de 7.7.

Mas não parou por aí, ela aumentou de brilho novamente. Suas últimas observações reportadas à AAVSO entre a noite de ontem e a madrugada de 30/06, a colocam entre as magnitudes de 6.6 e 7.3.

Por questões geográficas, não estamos sendo capazes de observar essa Nova, então, estamos seguindo-a através das observações enviadas à AAVSO. Abaixo uma curva de luz mostrando o comportamento dela, veja a Figura 1 para perceber a evolução:


Figura 2 - Curva de Luz da N Cas 2021. Cortesia AAVSO


EDIT.: O brasileiro Lucas Camargo da Silva, membro do NEOA-JBS, residente no hemisfério norte realizou observações da Nova em diversas ocasiões.

Agradecimentos a Alexandre Amorim que nos alertou para que a informação fosse inserida no texto.

quinta-feira, 24 de junho de 2021

V1674 Her: A MAIS BRILHOSA NOVA DOS ÚLTIMOS ANOS

    No dia 14 de junho a The American Association of Variable Star Observers (AAVSO) emitiu o alerta de número 745 convidando a comunidade de observadores de estrelas variáveis a participar de uma campanha de observação da Nova recém descoberta na constelação de Hércules pelo astrônomo japonês Seiji Ueda. Ela foi classificada como nova clássica e chamou a atenção pela seu repentino aumento de brilho, apresentando uma variação de 14 magnitudes em algumas horas, o qual foi registrado no dia 12 de junho de 2021.

    Para entender melhor a peculiaridade desta cataclísmica será feita uma pequena introdução acerca da classificação destas estrelas com base em suas características fotométricas e espectrométricas. Estes dados permitem conhecer um pouco mais sobre a estrela e comparar seus valores de magnitude absoluta e distância com outras novas que já ocorreram, ampliando o conhecimento acerca das etapas da evolução estelar.

Classe de velocidade de N Her 2021

    Uma das primeiras formas consiste na avaliação das taxas de decaimento da curva de luz que são medidas a partir do período de tempo necessário para diminuição do seu brilho em 2 (t2) ou 3 (t3) magnitudes. Estes valores definem a classe de velocidade da Nova, podendo-se utilizar a classificação de Payne-Gaposchkin (1957 apud BODE; EVANS, 2008) descrita na Tabela 1.


Tabela 1. Classificação da classe de velocidade de Novas.
Fonte: Adaptado de Payne-Gaposchkin (1957 apud BODE; EVANS, 2008).


    A curva de luz de V1674 Her apresentada na Figura 1 nos mostra que a Nova é classificada como muito rápida, sendo considerada uma das mais rápidas dos últimos anos. Aplicando-se a equação de Schimdt (1957) (Equação 1), pode-se obter uma magnitude máxima da estrela de aproximadamente -11,0.

Mmax = -11,8 + 2,5 log t3                                                                                                                  (1)

    Este valor aproxima-se da magnitude absoluta da Lua cheia que é de -12,26, porém devido a sua distância de cerca de 12 kpc (equivalente a 39.000 anos-luz), foi observada uma magnitude aparente máxima de 6,1.


Figura 1. Linha do tempo e curva de luz de V1674 Her.
Fonte: Imagem cedida por Carlos Palhares (2021); AAVSO (2021).

    Esta elevada taxa de decaimento da magnitude de V1674 Her pode também ser observada pelos registros fotográficos em forma de linha do tempo elaborados pelo astrônomo Carlos Palhares do Observatório Zênite (Figura 1). A sequência de imagens possibilita uma observação nítida da perda de brilho pela estrela em um curto período de tempo (9 dias), passando de uma magnitude de 6,1 para 11,4 conforme os dados da AAVSO.

Classificação espectroscópica de N Her 2021

    Com base na aparência do espectro de luz, uma nova pode ser classificada basicamente em dois tipos: as novas Fe II e as novas “He/N”. As estrelas pertencentes à classe Fe II são caracterizadas pela existência de linhas espectrais estreitas e a presença das linhas de ferro ionizado, enquanto que as novas “He/N” apresentam linhas espectrais alargadas, assim como picos nos comprimentos de onda referentes ao He e o N (TEYSSIER, 2011).

    O Astronomer’s Telegram #14718 emitido por Albanese e colaboradores (2021) apresenta alguns espectros de V1674 Her demonstrando a existência de picos espectrais largos. Por meio destas informações, dos dados apresentados por Boyd e outros observadores no Aras Spectroscopy Forum e o espectro obtido pelo astrônomo brasileiro Alexandre Zanardo (Figura 2) percebe-se que N Her 2021 trata-se de uma nova “He/N”. Isto corrobora com os valores apresentados na curva de luz da estrela, reforçando sua classificação como nova rápida (NA).


Figura 2. Espectros de luz de N Her 2021.
Fonte: Imagens obtidas por Alexandre Zanardo (UBA-Variáveis)

Registros e reporte de observações

Figura 3. Registro de V1674 Her para análise fotométrica.
Fonte: Imagem cedida por Luiz A. Araújor (UBA-Variáveis).
Diante da repercussão do surgimento desta cataclísmica diversos observadores vem contribuindo com registros por meio de fotometria e/ou espectrometria desta estrela submetendo suas observações ao banco de dados da AAVSO. Com isso, convidamos a comunidade de observadores a contribuir com o reporte de suas análises acerca de N Her 2021, para isso encontra-se disponível no link abaixo uma carta celeste com algumas estrelas de comparação próximas à magnitude atual da nova, a qual encontra-se em 11,9. Desejamos céus limpos a todos e boas observações.

Acesse a carta celeste


Referências

AAVSO. The American Association of Variable Star Observers. V1674 Her. Disponível em: <https://www.aavso.org/LCGv2/>. Acessado em: 22 jun. 2021.

ALBANESE, I.; FARINA, A.; ANDREOLI, V.; OCHNER, P.; REGUITTI, A.. Spectroscopic follow-up observations of Nova Herculis 2021. Disponível em: <https://www.astronomerstelegram.org/?read=14718>. Acessado em: 23 jun. 2021.

BODE, M.; EVANS, A.. Classical Novae. 2ª ed.. Cambridge University Press, 2008.

DELLA VALLE, M.; LIVIO, M.. The calibration of novae as distance indicators. The Astrophysical Journal, v. 452, p. 704 - 709, 1995.

SCHMIDT, T.. Die Lichtkurven-Leuchtkraft-Beziehung Neuer Sterne. Zeitschrift für Astrophysik, v. 41, p. 182 - 201, 1957.

TEYSSIER, F.. Novae & Spectroscopy. Astronomy, p. 52 - 57, dez. 2011.