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segunda-feira, 5 de abril de 2021

Conhecendo um pouco sobre as estrelas variáveis eclipsantes

 

O que são estrelas binárias eclipsantes?

O céu a noite fascina o ser humano desde os primórdios da civilização. Um céu estrelado a noite faz qualquer pessoa se maravilhar com a beleza do brilho das estrelas, até mesmo aqueles que fazem pouco caso de parar e olhar para cima em um dia de noite com céu limpo. O que poucos sabem é que a maioria daqueles pontinhos brilhantes, são na verdade duas ou mais estrelas orbitando uma a outra, bem próximas (do ponto de vista astronômico), e devido as distancias até a Terra, a luminosidade das componentes do sistema se misturam e não podemos perceber tão facilmente. Pesquisas desde o século XIX nos fornecem informações de que muitas dessas estrelas fazem parte de um sistema deste tipo. Esses sistemas são chamados de sistemas binários ou múltiplos.

Para este artigo, vamos nos ater somente a sistemas binários ou popularmente conhecido como estrelas binárias, pois, são a essas estrelas que muitos observadores de estrelas variáveis dedicam seus trabalhos. Estrelas binárias, normalmente, compõem um sistema no qual uma componente é uma estrela com massa muito maior (estrela A) e outra com massa menor (estrela B) e apresentam uma característica bem interessante para observadores aqui na Terra.

Existe uma definição importante quando se ler e se estuda sobre estrelas binárias, é o conhecido Lobo de Roche. Em um sistema binário, existem duas estrelas com campos gravitacionais altíssimos em interação, você deve lembrar de suas aulas de física que em campos gravitacionais existem regiões de equipotencial, ou seja, regiões ao redor de um corpo massivo que apresentam a mesma medida para a força gravitacional. Agora vamos imaginar nosso sistema binário de estrelas, cujos campos gravitacionais se “misturam”. Com toda certeza ainda existem pontos de equipotencial ao redor deste sistema, porém, agora devido a soma desses potenciais gravitacionais haverão regiões críticas em que os potenciais das duas estrelas se anulam. A figura 01, detalha um pouco sobre essas regiões:

http://astro.if.ufrgs.br/evol/node56.htm

 Como podemos perceber, os pontos L1, L2 e L3 apresentam-se como os pontos críticos nesta ilustração. Mas vamos observar com mais atenção o ponto L1, pois nessa região passa o equipotencial, que, quando a estrela expande sua superfície até esse ponto, ela transfere massa para a sua companheira e esse equipotencial que passa pelo L1 que chamamos de Lobo de Roche. Existe uma classificação de estrelas binárias quanto ao Lobo de Roche são elas: binário destacado, binário semi-destacado, binário de contato e binário de contato saturado.

1)      As binárias destacadas são sistemas em que as estrelas estão completamente dentro de seus Lóbulos de Roche e podemos observa-las separadamente a uma certa distância uma da outra:


https://www.slideserve.com/irish/grupo-de-astronomia

2)      As binárias semi-destacadas apresentam uma de suas componentes preenchendo todo o Lobo de Roche, o que acarreta uma transferência de massa para a estrela menor:


https://www.slideserve.com/irish/grupo-de-astronomia

3)      As estrelas binárias de contato são sistemas em que as duas estrelas preenchem completamente o Lobo de Roche, podendo haver assim uma transferência mútua de massa entre as estrelas. Esse é um tipo bem raro de se encontrar, pois existem condições muito específicas para que essa configuração aconteça:


https://www.slideserve.com/irish/grupo-de-astronomia

4)      A última classificação é o modelo mais comum de se encontrar no universo, são as binárias de contato saturado. Nesses sistemas, as estrelas expandem suas superfícies para além do Lobo de Roche, transferindo massa e energia pelo ponto L1.


https://www.slideserve.com/irish/grupo-de-astronomia

Para as estrelas deste sistema, em uma situação em que estejam orbitando no mesmo plano de visada do observador, pode ser observado um bloqueio da luminosidade medida aqui na Terra, pois, quando uma das estrelas atravessa a frente de sua companheira, parte da luz da estrela eclipsada é bloqueada, o que gera uma variação no seu brilho, ou em termos mais técnicos, na sua magnitude. Essas por sua vez, são conhecidas como binárias eclipsantes, variáveis eclipsantes ou binárias fotométricas. Abaixo podemos ver uma animação de como os eclipses acontecem:

https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=199420

A variação na magnitude de algumas binárias eclipsantes pode ser facilmente observada visualmente e com o auxílio de um pequeno telescópio ou um binóculo. Essa variação também pode ser medida utilizando-se de métodos indiretos como a espectroscopia e a astrometria. Mas, qual a importância de observar essa variação de brilho dessas estrelas? Pois, bem, com as observações sistemáticas dessas estrelas é possível obter uma curva de luz (gráfico no qual se mostra a variação de magnitude ao longo do tempo) característica desses objetos e como o que causa a variação é a passagem de uma estrela na frente da outra, isso está intimamente ligado ao seu período orbital, o que resulta em um gráfico com intervalos entre os eclipses bem definidos, podemos assim, estimar quando acontecerá o próximo eclipse. Os cálculos dessas órbitas podem nos dar informações sobre a massa de cada uma das estrelas, o raio de cada uma e a densidade das estrelas. Esta parte ficará para um artigo futuro aqui no blog.

Alguns tipos curiosos de variáveis eclipsantes

1.       Algol

Esta estrela eclipsante binária é também conhecida como beta Persei. O que nos chama a atenção para essa estrela é que ela serve como base para todas as variáveis eclipsantes. Nestes sistemas binários, as duas estrelas estão a uma certa distância de tal maneira que as variações podem ser facilmente percebidas a olho nu e os eclipses podem ser notado facilmente nos gráficos de curvas de luz.  Outro fato interessante dessas estrelas é que a diminuição do brilho ocorre a cada 3 dias e duram no decorrer de horas. A ilustração abaixo facilita nossa percepção de como é o sistema beta Persei: 

 

Nestas variáveis, o eclipse primário, que é quando ocorre da componente menos brilhante passa na frente da componente mais brilhante, ela apresenta uma amplitude bem maior que o eclipse secundário, detalhe que em outros sistemas binários nem se percebe. A variação na sua magnitude pode atingir a casa de quatro magnitudes, como por exemplo o sistema RW Tauri, outro detalhe interessante é o período que em alguns casos, dependendo da distância entre as componentes do sistema, varia de um dia a anos.

Caso haja interesse por essa variável eclipsante, segue uma carta de observação fornecida pela AAVSO e como ela pode ser facilmente observada a olho nu, já servira para aprimorar suas habilidades na observação.


2.      Ursae Majoris

Esse outro tipo bem curioso de sistema binário é também conhecido como binário de contato de baixa massa. Essas estrelas estão tão próximas que há um compartilhamento de matéria e energia de uma estrela para outra através de uma espécie de pescoço de conexão. Essas estrelas são constantemente distorcidas pela gravidade uma da outra, o que provoca uma variação de brilho além da observada nos eclipses. Abaixo podemos ver uma curva de uma estrela do tipo W Ursae Majoris, um subtipo das estrelas Ursae Majoris


Os períodos desses sistemas podem variar de 0.22 a 0.8 dias, período bem curto comparado às outras estrelas do tipo binária eclipsante, isso se dar pelo fato de as estrelas estarem bem próximas, em contato, e orbitarem entre si em intervalos bem curtos de tempo, o que acarreta intervalos de eclipses bem pequenos.

Para os curiosos que quiserem observar este tipo de estrela, abaixo há uma carta de observação da estrela ε CrA, na constelação de Corona Australis. Essa estrela varia de 4,74 a 5 magnitudes em um período de 0.6 dias.


3.       QX Cas

QX Cas é um sistema de eclipsantes binárias do tipo |Algol, porém há duas características bem interessantes sobre esse sistema. A primeira característica é que o período entre seus eclipses é de 6.00471 dias, esse número tão próximo de ser inteiro, deixa bem defino que se o eclipse ocorrer ao meio dia do 01 de julho, por exemplo, ele voltará a ocorrer no meio dia no dia 07 de julho, porém, a quase 7 min mais tarde.

A segunda característica é que esse sistema deixou de apresentar eclipses para os observadores aqui na Terra, mas não porque as estrelas pararam de orbitar e sim devido aos movimentos de precessão das estrelas componentes que fizeram com que o sistema tirasse sua orbita do plano de observação daqui da Terra. E o mais interessante é que esse “sumiço” foi observado ao longo dos anos, como mostra a ilustração abaixo, no qual podemos perceber que com o passar dos anos, a intensidade dos eclipses foram diminuindo até não haver mais. Eis aqui um belo exemplo do quão é importante arquivar as observações dessas estrelas: 

https://www.aavso.org/eb-zoo

 Se quiser saber um pouco mais, estudar e observar essas estrelas de modo sistemático e contribuir para a astronomia profissional, venha participar da Comissão de Estrelas Variáveis da UBA, nós vamos adorar receber você e suas curiosidades sobre essas estrelas. Entre em contato com a gente!


Por:

Eurimar Araújo



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